
PRÓLOGO
A paixão de Betina Zetser pela fotografia começou ainda cedo. Tinha apenas nove anos quando ganhou sua primeira máquina Kodak. De lá para cá, as máquinas mudaram e seu amor pela profissão ficou cada dia mais intenso.
Betina nasceu e foi criada em uma família muito tradicional da odontologia carioca. Seu pai, o renomado Dr. Paulo Afonso Zetser, nunca se conformou que sua única filha não tivesse seguido a carreira dele como seus outros dois filhos.
Betina nunca conseguiu convencê-lo de que a fotografia poderia dar-lhe um futuro promissor. Coitado, morreu acreditando que ela passaria a vida tirando fotos de aniversários de crianças e de casamentos. Para ele, fotografia era uma arte fora da realidade e poucos eram os que tinham a sorte de se destacarem e serem reconhecidos. Ela, de certa maneira, até concordava com ele, mas sua paixão era tão grande que não existia a menor possibilidade de se imaginar fazendo qualquer outra coisa. Ela repetia para si mesma que, na maioria das profissões, talento e sorte eram fundamentais para alcançar o sucesso.
No início, sua carreira realmente não foi nada fácil: muito trabalho autônomo e pouquíssimo reconhecimento. Na verdade, quase nenhum. Realizou algumas viagens em busca do foco perfeito, mas poucas foram as chances de conseguir um momento que a levasse ao grande reconhecimento.
Há sete anos, conheceu Gustavo Borges, seu atual chefe. Foram apresentados em um evento de jornalismo em Porto Alegre. Trocaram cartões pessoais e, uma semana depois, ele a chamou para uma entrevista. Desde então, Betina trabalha para a “Business Travel”, uma revista especializada em viagens de negócios. Inicialmente cobria cidades brasileiras, levantando informações sobre hotéis, custos, restaurantes, escritórios volantes, enfim, tudo o que é necessário para tornar a vida dos executivos mais atrativa e menos cansativa.
Sua vida profissional começou a melhorar há quatro anos, quando as matérias passaram a ser internacionais. Primeiro veio a cobertura na América Latina, onde explorou cantos e recantos de praticamente todas as capitais. Depois vieram outros destinos, nos Estados Unidos e na Europa. Infelizmente, seu medo de altura e de avião a impediu de cobrir cidades mais distantes, com exceção de uma viagem a Deli, na Índia.
Profissionalmente, não tem do que reclamar. As oportunidades foram aparecendo aos poucos. Seu ganha-pão é o suficiente para cobrir as despesas de seu apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema, suas saídas nos finais de semana, as compras e, principalmente, uma pequena poupança que mantém ativa para emergências.
Sua vida pessoal não é das mais interessantes. Prestes a completar 32 anos, seu coração está dilacerado por duas grandes perdas nos últimos anos: seu pai faleceu repentinamente de câncer no mesmo ano em que se separou de João. Isso foi há quatro anos. A ausência desses dois homens ainda é muito dolorosa, mas ela tenta compensá-la na sua dedicação ao trabalho.
Embarcando para Londres no aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, não imaginava que sua vida, em pouco tempo, mudaria drasticamente, trazendo à tona sentimentos cuja existência ela já não lembrava.
Capítulo 1 – Beijing
Outubro, 2002
Bruno Jopson, um renomado jornalista inglês, trabalhava há três semanas em uma reportagem investigativa sobre a prostituição na China. Passava-se por cliente e, por diversas noites, vagou por boates e ruas da cidade de Beijing.
Já havia conseguido os nomes dos principais líderes do crime na cidade e, para todos os efeitos, ele se chamava Peter e assim era conhecido pelos cafetões da área. Com uma câmera escondida e muita coragem, entrava no antro da prostituição sem levantar suspeitas sobre sua real missão. Para os que o viam, ele era apenas um abobalhado turista britânico interessado em gastar libras com as meninas ofertadas.
Havia mulheres de várias nacionalidades. Chinesas — a maioria —, russas, ucranianas, romenas, todas vindas para tentar a vida em Beijing, onde havia a promessa de melhores clientes.
Em um sábado à noite, a reportagem começou a mudar de rumo, quando Bruno foi apresentado a Jen Chang, um dos grandes chefões da prostituição de Beijing. Ele estava acompanhado de uma menina chamada Han, que não poderia ter mais do que 15 anos. Bruno percebeu que a pobre menina possuía um olhar sem brilho, sem expressão e muito sombrio. Ele a encarou por alguns segundos sem que seu “dono” percebesse.
Compreendeu naquele instante a súplica que vinha de seus olhos. Escandalosamente, Han implorava por ajuda, e o seu dever como jornalista, pai e ser humano era acudi-la da forma que fosse possível.
Sem opção, embarcou em uma de suas mais arriscadas missões. Na época, o jornal para o qual trabalhava contava com a parceria de uma agência britânica de detetives particulares, e eram auxiliados por ex-agentes da KGB. Eles adaptaram uma microcâmera em um dos mais modernos lançamentos de telefonia celular do ano, um Motorola Razr V3. Bruno tinha total confiança em que ninguém descobriria essa tecnologia, mas, no fundo, sabia do risco que corria se alguém desconfiasse.
Dois dias se passaram e Bruno procurou Jen Chang para conversar sobre uma proposta que muito lhe agradaria. Chang marcou um encontro no lobby de um discreto hotel, próximo ao parque Beihai. O local era simples, um edifício de apenas cinco andares que mantinha uma decoração bastante tradicional.
Ao entrar no prédio, Bruno foi obrigado a passar pelo detector de metais, entendendo o porquê de Chang ter organizado o encontro ali: ele queria certificar-se de que Bruno estaria desarmado, muito diferente dos seus três seguranças, que estavam em uma outra mesa, a cinco metros deles.
Ao acomodar-se, sentando-se à frente do chinês, Bruno posicionou seu telefone com a câmera escondida em cima de sua carteira Montblanc preta, para que pudesse ter um melhor ângulo para a gravação. Apesar do inglês precário de Chang, a conversa se desenrolou com tranquilidade, sendo, inclusive, mais fácil do que Bruno imaginava.
O jornalista encoberto ofereceu ao Sr. Chang 700 mil libras para entreter um grupo de empresários britânicos que estava chegando à cidade. O falso grupo seria composto por sete homens que buscavam uma recepção bem calorosa. A única exigência era a garantia de que o atendimento fosse realizado por jovens menores de idade. Jen Chang, entusiasmado com a irrecusável oferta, pediu um prazo de cinco dias para conseguir preparar e agrupar as meninas.
Por debaixo da mesa, Bruno lhe passou um envelope com uma pequena parte da quantia negociada, cerca de 30% dos valores, que foram disponibilizados pela polícia chinesa, a qual a essa altura já estava envolvida. Ao entrar no caso, a polícia tentou afastar Bruno da tocaia, alegando que seria uma operação de altíssimo risco. Mas ele os convenceu de que já havia conquistado a confiança dos figurões do crime e que assim seria muito mais fácil conseguir as provas que tanto desejavam.
Na tarde do dia da emboscada, Bruno estava sentado próximo à janela do seu quarto de hotel. O sol era intenso, mas, apesar disso, uma espessa névoa de poluição atmosférica escondia o topo dos prédios mais altos.
Ele foi até o cofre e pegou sua carteira de couro velha e antiga. Essa era a sua verdadeira carteira, que armazenava seus verdadeiros documentos e, além do mais, carregava uma enorme carga sentimental. De dentro dela, puxou uma foto de seu filho, Mark e, em seguida, de sua esposa, Elizabeth. Observou as duas fotografias pensando no perigo que corria.
Ele já havia se arriscado muito nessa reportagem investigativa e estava bem próximo de conseguir as provas concretas do trabalho desenvolvido nos últimos 20 dias. Tinha medo de alguma coisa dar errado e não poder mais estar com sua família.
Na hora marcada, Bruno levou o falso grupo até o bar que era de propriedade de um dos sócios de Jen Chang. O cafetão chinês já estava presente, fizera questão de acompanhar pessoalmente as meninas menores de idade.
Discretamente, uma a uma, foram entrando pelos fundos do bar sob os olhares dos policiais, que interpretavam, de forma bastante incontestável, pedófilos famintos por sexo. Bruno se sentia incomodado por ainda não poder tranquilizá-las, mas precisava ser convincente até o momento correto.
Todas as meninas, que tinham idade entre 13 e 15 anos, estavam muito assustadas. Muitas ainda eram virgens e foram levadas a essa vida medíocre para poder aumentar a renda familiar. Por último, entrou Han, a menina que havia conseguido denunciar, com seu olhar suplicante, todo aquele esquema sujo.
Jen Chang ofereceu-a a Bruno por cordialidade, pelo excelente negócio que haviam acabado de oficializar. O olhar de Han era ainda mais horripilante ao pensar que Bruno seria capaz de usar seu frágil corpo em troca de minutos de prazer. Como parte da interpretação, Bruno mostrou-se bastante empolgado, mas aquela encenação o mutilava por dentro. Sentia-se enojado e não parava de fitá-la na intenção de lhe passar confiança, mas, por fim, ela já não o encarava mais.
Finalmente, quando Bruno entregou a Jen Chang a maleta com o restante do dinheiro acordado, diversos policiais invadiram o bar e prenderam todo o grupo que lá estava. Outras 17 pessoas também foram detidas por participarem do esquema, e as meninas, encaminhadas para centros de recuperação de violência sexual infantil, inclusive a própria Han.
A verdadeira identidade de Bruno nunca pôde ser revelada, pois, se viesse a público, sua segurança pessoal e a de sua família passariam a ficar vulneráveis, mediante tamanha repercussão internacional que o caso gerou.
CAPÍTULO 2 – ANTES DE TUDO ACONTECER
Dois anos antes… 27 de maio de 2000 – Rio de Janeiro
(Por Betina Zetser)
Era sábado à tarde e eu estava no salão de cabeleireiro em Ipanema, na esquina da rua Garcia D’Ávila com a Barão da Torre. Fazia pé e mão, enquanto Alex puxava meus cabelos para baixo e para cima em uma dolorosa escova. Nessa época, já não tinha mechas aloiradas, porque desde o ano anterior havia assumido a cor negra natural.
Estava me preparando para a grande festa de casamento do meu irmão Pedro. A expectativa para a cerimônia já perdurava por meses na família. Desde outubro do último ano, minha mãe não falava em outra coisa. Era visível sua frustração por não poder opinar nas decisões da festa, apesar de seu bom relacionamento com Beatriz, minha futura cunhada.
Eram quatro horas da tarde e ainda não havia sido liberada para a sessão de maquiagem, muito menos para regressar à casa e terminar de me arrumar. Meu plano era estar pronta às seis horas, já que o casamento estava marcado para as seis e meia, mesmo sabendo que Beatriz atrasaria meia hora, algo que ela mesma havia planejado.
Minha mãe já começava a entrar em pânico com os ponteiros do relógio, que se moviam depressa. Finalmente, às cinco da tarde, fomos liberadas.
Chegamos à igreja Nossa Senhora da Paz às seis e dez, em um final de tarde encantador no Rio de Janeiro. O céu, com sua tonalidade rosa-alaranjada, deixava tudo com uma iluminação perfeita. A desejada golden light, ou luz dourada, a qual todos os fotógrafos admiram, refletia uma coloração perfeita no topo das árvores da praça em frente, que levava o mesmo nome da igreja.
Por um minuto, enquanto observava a deslumbrante paisagem, me peguei pensando que deveria ter trazido minha câmera fotográfica. Mas concordava com a minha mãe, que dizia que minha Nikon não combinaria em nada com meu vestido tomara que caia cor de ameixa, o qual havia sido desenhado pelo consagrado estilista Carlos Miele.
Ao entrar, avistei alguns parentes e vários convidados dos noivos. Fiquei feliz em ver que minha prima Mari já havia chegado, e ela estava linda como sempre. Nós sempre fomos muito grudadas. Nascemos no mesmo ano e crescemos praticamente juntas. A falta de uma irmã fez dela minha melhor amiga e confidente em todos os meus 24 anos de vida, mas acabamos nos afastando um pouco há dois meses, quando, ao passar em um concurso da Polícia Federal, ela se mudou para Brasília. Esse sempre fora seu sonho e eu estava feliz por ela ser capaz de realizá-lo.
— Mari! — gritei de longe, e ela, com seu sorriso contagiante, veio ao meu encontro. Abraçamo-nos tão fortemente que, por um minuto, achei que meu vestido arrebentaria.
— Ai, Betina, que saudades! Não suporto essa distância.
— Eu também não, prima, mas estou muito feliz por você.
— Vem, Betina! Quero te apresentar ao meu namorado.
Ela me puxou pelo pulso, levando-me para um grupo de pessoas que estava a uns dez metros de nós.
Meu espanto foi notório e, pela primeira vez, percebi o quanto nossas vidas haviam se distanciado. Em outros tempos, sem dúvida nenhuma, eu seria a primeira a saber sobre ele.
— Betina, esse é o Felipe. Nos conhecemos em Brasília, ele é delegado da Polícia Federal.
Não pude deixar de sorrir. Ela realmente estava levando a sério a concretização dos seus sonhos infantis.
Quando éramos pequenas e brincávamos de Barbie, sua boneca era sempre a justiceira, e o Ken mais bonito da coleção, o delegado que a ajudava nos nossos casos imaginários de polícia e ladrão.
— Prazer em te conhecer, Felipe! — Falei com entusiasmo.
— O prazer é meu. Agora sim conheço pessoalmente a famosa Betina! Desde que conheci a Mariana, ela não para de falar em você. Já ouvi inúmeras histórias de vocês duas. Deve estar sendo muito difícil essa distância, não é?
— Sem dúvida! Mas ao mesmo tempo estou muito feliz por ela estar realizando seus sonhos. Desde pequena, ela sempre desejou ser justiceira, e dou meu total apoio.
Mari e eu rimos juntas. Tenho certeza de que estávamos sintonizadas e pensando a mesma coisa. O Ken de nossas brincadeiras acabava de se materializar e se chamava Felipe.
— Sei que não teremos muito tempo para conversar aqui na festa, mas amanhã o Felipe precisa encontrar umas pessoas aqui no Rio, um programa chatíssimo do qual já pulei fora. Você não quer aproveitar para a gente ir à praia e botar o papo em dia? — Ela sugeriu, empolgada.
— Claro! Afinal, temos muito o que conversar! — respondi, enquanto inclinava meus olhos em direção a Felipe.
Conversamos um pouco mais, até o casal ser sugado para atender a um outro grupo, pois parentes queriam saudá-la por sua nova posição na capital federal.
Voltando a observar o movimento nos corredores da igreja, lembrei que seria madrinha junto com um amigo do Pedro, pois Carlos, meu irmão do meio, já era comprometido e faria par com sua noiva.
Olhando a multidão, fiquei na expectativa de tentar descobrir quem seria o João, meu par. A única coisa que sabia sobre ele era que ele e Pedro haviam se conhecido na faculdade e se tornaram grandes amigos, mesmo tendo cursado áreas diferentes. Pedro se formou em odontologia, assim como meus pais, e João fez medicina. Meu irmão afirmava que eu já o conhecia da sua festa de formatura, mas não tinha nenhuma lembrança, afinal já fazia 10 anos e, na época, eu era apenas uma menina de 14.
Todos os padrinhos foram chamados à sacristia para as orientações e o início da cerimônia. Ao chegar à porta, Pedro me viu, acenei para ele, e nos aproximamos.
— Belinha! Você está linda! Venha aqui, quero te apresentar ao João!
Meus irmãos são os únicos que me chamam de Belinha. Tenho esse apelido desde pequena. Carlos não conseguia falar Betina quando nasci e me chamava de Belinha, então o apelido acabou pegando.
Fomos na direção de uns rapazes, que, pelos trajes, seriam padrinhos também. Conversavam entusiasmadamente, todos muito comunicativos e extrovertidos. Um deles, ao nos ver, se afastou do grupo discretamente e, com um sorriso contagiante, veio nos cumprimentar.
— João, você se lembra de minha irmã? — disse Pedro.
Ele fez um sinal positivo com a cabeça enquanto apertava a minha mão e se aproximou para me dar um beijo no rosto.
Não pude deixar de perceber a sua empolgação ao me reencontrar. Sem dúvida minha aparência lhe pegou de surpresa, já que a única vez que nos vimos eu ainda era uma menina franzina, sem curvas e com um imenso aparelho fixo nos dentes. Apesar de a minha empolgação não ter sido recíproca, concordava que ele era interessante. João não era o tipo de parar o trânsito, mas era absolutamente charmoso.
Segundos depois, alguém chamou o Pedro e ele se perdeu no meio de tantos convidados. A partir daí, éramos só nós dois.
— Já fomos apresentados há muito tempo, na formatura do Pedro — disse João, iniciando uma conversa tímida.
— É! Ele me falou que já nos conhecíamos. Me desculpe, não tenho nenhuma recordação, eu era muito pequena.
— Tem razão, você era bem pequena. Um pouco diferente da linda mulher que se tornou.
Envergonhada, tive vontade de me esconder, cavar um buraco no chão e me enfiar nele, mas não havia nada que eu pudesse fazer para fugir do seu olhar indesviável. Minhas maçãs do rosto queimavam de vergonha, tornando meu constrangimento aparente. Fomos interrompidos pela cerimonialista, que iniciava a formação dos casais do lado de fora da igreja.
Pouco a pouco, a fila de padrinhos ia aumentando. Era um total de oito casais e seríamos o quarto a entrar no grande corredor que levava ao altar.
— Você já foi padrinho alguma vez? — perguntei, enquanto estávamos nos posicionando.
— Não, nunca! E você, já foi madrinha?
— Também não. — respondi.
— Vamos ter que aprender isso juntos, então! — Ele respondeu, curvando-se um pouco para sussurrar em meu ouvido.
João segurava minha mão com muita força e não consegui camuflar o arrepio que senti. Não pude deixar de notar a temperatura quente de seu corpo e, pela primeira vez, encarei-o com um olhar mais afetivo.
No altar havia cadeiras para que as mulheres pudessem descansar os pés dos dolorosos saltos altos, enquanto os padrinhos se posicionavam em pé atrás delas. Por todo o tempo da cerimônia, João mantinha as mãos pousadas no encosto do meu assento. Em alguns momentos, sentia que seus dedos escorregavam propositalmente até tocar sutilmente meus cabelos, que estavam soltos na altura dos meus ombros. A sensação era deliciosa e fazia meu corpo formigar. A cerimônia passou mais rápido do que eu queria e percebi que o objetivo de seus graciosos toques fora cumprido.
Ao final, todos estavam cumprimentando os noivos e, na confusão da porta da igreja, acabei me desencontrando dele. Fui para o Copacabana Palace, onde foi a festa, no mesmo carro que Mari e Felipe, já que meu único meio de transporte era minha companheira Honda, a qual havia deixado em casa
No caminho para a festa, acabei não comentando nada com Mari sobre João. Felipe estava dirigindo e não tinha intimidade com ele para falar sobre o assunto, mas Mari me conhecia bem e percebeu pelos meus olhos que eu tinha muito a dizer.
Nos primeiros 30 minutos de festa, não podia esconder minha frustração. Meus olhos estavam em caça. Para qualquer lugar que olhava, tentava achá-lo. Uma busca em vão, pois o tempo passava e eu não conseguia encontrá-lo.
Na hora do jantar, fomos encaminhados para as mesas, que estavam com os assentos marcados. Cheguei ao local designado e já havia alguns padrinhos das noivas sentados na outra extremidade da mesa. Avistei o meu nome e me sentei.
Ao meu lado direito estavam o nome do meu irmão, Carlos, e o de Amanda, sua noiva. Instintivamente olhei para meu lado esquerdo e me decepcionei ao ler o nome Roberto Perez, no lugar que eu gostaria que fosse o de João.
A cada segundo que passava eu ficava mais nervosa e ansiosa. Estava brava por não encontrá-lo e, principalmente, por não tê-lo ao meu lado. Estava incomodada por me sentir daquele jeito. “Mas que merda!”, pensei. “É o casamento do meu irmão! É para eu estar feliz e desfrutando, mas, ao contrário, estou irritada”. Carlos e Amanda chegaram e se sentaram ao meu lado. Trocamos algumas palavras e ele percebeu que eu estava diferente. Fiz sinal para que ele não se preocupasse. Ele, então, voltou a dar atenção para sua noiva.
Minutos depois, um rapaz da equipe de organização da festa se curvou para retirar a identificação que estava ao meu lado e logo atrás escutei a voz de João agradecendo. Imediatamente olhei para cima e o vi com seu sorriso dissimulado e alegre.
Ele se sentou, enquanto borboletas davam piruetas no meu estômago.
— Oi! — me cumprimentou, com voz suave.
Retribuí com empolgação.
— Que trabalhão me deu para conseguir esse lugar. — João falou com deboche.
— Não me diga que você teve que subornar alguém? — respondi no mesmo tom.
E, com um olhar irônico, ele completou:
— Não, claro que não! Mas um tal de Roberto Perez levou uma surra e foi hospitalizado.
Gargalhamos juntos e ele continuou a conversa.
— Eu a procurei na saída da igreja, mas não a encontrei. Queria ver se você tinha como vir para festa ou se precisava de carona.
Percebi que ele estava tão nervoso quanto eu. Afinal de contas, que tipo de preocupação seria essa? Como eu não teria carona, no casamento do meu próprio irmão? Tentando não transparecer minha ansiedade, respondi:
— Eu vim para cá com minha prima. Estamos morando muito longe uma da outra e temos muito assunto para colocar em dia.
Enquanto esperávamos o jantar, dois garçons enchiam, com champanhe Taittinger Rosé, as taças das oito pessoas sentadas à mesa. O irmão da Beatriz, que estava na outra extremidade, bateu com uma colher, delicadamente, três vezes em sua taça e todos nós o encaramos.
— Gostaria de propor um brinde ao mais novo casal. Que eles sejam tão felizes quanto eu e minha linda mulher.
Carinhosamente, ele se virou para a esposa e lhe deu um beijo. João chegou mais perto e sussurrou em meu ouvido:
— E, também, um brinde aos reencontros da vida.
Estalamos nossas taças e bebemos um gole do delicioso champanhe. Brindamos, jantamos e conversamos muito, sobre diferentes assuntos. Ele me contou sobre os projetos que tinha para quando terminasse sua residência no hospital. Sua empolgação em neurocirurgia era contagiante, apesar de o assunto não ser tão agradável. Nosso entrosamento, a cada minuto, crescia.
Depois do jantar, a maior parte dos convidados tomou a pista de dança e João convidou-me para dançar também. No caminho havia muitas pessoas e só tinha espaço para passar um de cada vez. Ele me posicionou à sua frente e foi me seguindo com uma das mãos pousadas em minha cintura.
— Posso te fazer um pergunta? — ele falou, com uma certa apreensão.
— Claro que pode! — respondi com entusiasmo, passando-lhe confiança.
— Você acha que tem alguma chance de você aceitar um convite meu para sair?
— Não vejo problema algum nisso. — respondi, olhando nos seus olhos, como se estivesse suplicando para que o fizesse e, sem desviar seu olhar, ele deu um sorriso tímido e um suspiro de alívio.
Continuamos a dançar e assim foi por toda a noite. Não foi difícil perceber que minha família toda estava comentando sobre nós. Comportávamo-nos como se nos conhecêssemos há anos.
No fim da noite, ele me levou em casa. Estávamos em seu carro, um Golf preto 1999. No rádio tocava um dos grandes sucessos do ano anterior: “O Vento”, do Jota Quest. A letra parecia ter sido escrita para aquele momento. Era um momento que não queríamos que acabasse e, no fundo, sabíamos que estava só começando.
Ao chegarmos à porta do meu prédio, ele desligou o carro, mas a música continuava a penetrar em nossos ouvidos. Ele se virou para mim e, com a mão direita, ajeitou uma parte do meu cabelo por trás da minha orelha esquerda.
— Gostei muito da noite. — ele falou, quase sussurrando.
— Eu também adorei — respondi, encabulada.
— Quanto ao convite que te fiz, já sei a sua resposta, mas será que o Pedro não vai se incomodar?
— Bom, acho que já sou bastante crescida para tomar decisões sem ter que pedir permissão ao meu irmão mais velho. Mas, se isso te incomoda, por que não aproveitamos enquanto ele está em lua de mel?
Ele sorriu e suspirou em sinal de aprovação.
Me aproximei para me despedir e, pela sincronia de nossa respiração, era notório que ambos queríamos um beijo. Mas a despedida não passou de um tradicional beijo no rosto.
— Boa noite, João — falei, com a voz falha.
— Boa noite, Betina. Eu te ligo então.
— Vou esperar. — E fechei a porta do carro com as pernas trêmulas.
A noite foi longa e custei a dormir. Passei um bom tempo tentando entender o que havia acabado de acontecer. Não tinha sentido nada por ele ao conhecê-lo, mas um sutil toque em meus cabelos durante a cerimônia mudou completamente o rumo de meus sentimentos. Passei o resto da noite pensando nele e no quanto ele havia mexido comigo.
No dia seguinte, acordei com uma fome incontrolável. Tomei meu café da manhã e fui me encontrar com a Mari no posto nove da praia de Ipanema. Já era tarde quando saí de casa, mas tinha certeza de que ela não chegaria lá antes das duas da tarde.
Conversamos por horas sobre o Felipe, sobre como eles haviam se conhecido e sobre como estavam apaixonados um pelo outro. Falei também sobre João e o fato de ele ter mexido tanto comigo. Há muito tempo não me sentia assim, tão leve e feliz. Não conseguia parar de sorrir, parecia que havia colocado um cabide na boca. No final da tarde nos despedimos e voltei para casa. Mari regressaria para Brasília na manhã seguinte. Ela tinha ido ao Rio só para o casamento do Pedro.
Chegando em casa, encontrei um recado na minha escrivaninha com a letra da Lourdes, nossa empregada.
“João ligou, disse que entrou numa cirurgia que vai demorar muito. Falou que se der liga novamente, senão amanhã ele tenta. Quem é João? É o seu namorado da festa? Ah, dei seu celular para ele. Foi ele que pediu.”
Eu ri. Lourdes era uma graça. Trabalhava na minha casa desde que eu nasci. Ela me amava como se fosse minha mãe e me protegia de tudo e de todos.
“Que droga!”, pensei. Havia perdido a chance de falar com ele. Agora não sabia quando ele ligaria novamente. Fui me deitar com a certeza de que seria mais uma noite mal dormida, até que escutei o bip de uma mensagem nova no meu celular. Corri para ver se era dele e, para minha surpresa, estava escrito:
“Betina, sei que é tarde! Ainda não consegui sair da cirurgia. Não me esqueci de você, como se isso fosse possível! Amanhã a gente se fala. Durma bem. Beijos, João.”
E então, dormi com o som dos anjos que cantavam a nossa música, “O Vento”.
CAPÍTULO 3 – MUDANÇA DE PLANOS
Anos mais tarde… Abril de 2008
(Por Betina Zetser)
Terça-feira, fim de tarde em Londres. Caía uma chuva fina de primavera, no entanto a temperatura era agradável. Estava no Café Uno, na Trafalgar Square, finalizando a publicação do meu trabalho de 15 dias na cidade. Já havia selecionado as fotos que acompanhariam o artigo, tudo estaria pronto para ser enviado na manhã seguinte. Apesar de ser fotógrafa profissional, minha maior habilidade passou a ser os textos que escrevia para as matérias. Precisei desenvolver essa competência para conseguir progredir na revista.
Não podia reclamar do meu trabalho; há sete anos eu era paga para viajar, conhecer cidades interessantes, me hospedar em bons hotéis e dar dicas de restaurantes para executivos. Já havia feito diversos trabalhos em Londres, cobrindo diferentes aspectos da cidade, mas não me cansava de estar aqui. Para mim, Londres é uma das cidades mais fantásticas que já visitei e sempre me encanto com suas ruas, seus cenários e suas misturas culturais.
Todos os dias, ao final da tarde, refugiava-me nesse café, onde fazia um lanche para matar a fome de quase um dia inteiro sem ingerir um alimento. Tomava um café latte e colocava, além do trabalho, minha vida pessoal em dia.
“Vida pessoal!”. Há muito tempo não sabia o que era isso, desde que virara a página do meu relacionamento de quatro anos com o João.
Meu ex-marido, se é que posso chamá-lo assim, apesar de não termos nos casado oficialmente, era mais conhecido como Dr. Alencar, médico plantonista do hospital Copa D´Or, no Rio de Janeiro. Nosso romance iniciou fadado ao fracasso. A incompatibilidade das profissões não permitiu que nossas vidas perdurassem por muito tempo juntas.
Já havia se passado três horas desde que entrara no café e minha ansiedade com a viagem de volta ao Brasil já deixava minhas mãos encharcadas de suor. Meu medo de altura era o maior sabotador de minha profissão, que exigia muitas viagens, as quais sempre me apavoravam. Quando ingressei na revista, acordei com o Gustavo que meus trabalhos não poderiam durar menos de dez dias. Esse foi o tempo mínimo que consegui estipular para diminuir o trauma de cada trecho viajado. Cheguei a fazer terapia para ver se resolvia meu problema e, de certa maneira, já havia melhorado muito.
“Tudo bem, ainda tenho um dia inteiro para bater perna e deixar minha cabeça bastante ocupada. Só tenho que pensar nisso depois de amanhã” — ponderei.
Saí do Café Uno às sete horas da noite e fui para o hotel. Estava começando a organizar minhas coisas e fazer as malas quando meu celular tocou. Era o Gustavo, que, além de meu chefe, era um dos sócios da revista. Imaginei que ele estivesse ligando para cobrar meu trabalho.
— Olá, Gustavo! — atendi a ligação animada.
Eu era a única pessoa na revista que o chamava pelo primeiro nome. Ele era conhecido como Borges, mas não me acostumava a chamá-lo assim. Sabia que ele não se incomodava, tenho em mente que ele até gostava.
— Betina, querida! Como está tudo por aí?
— Tudo bem! E aí? Muito calor?
— Matando como sempre, mas a previsão é de melhora para o final da semana. Como vai a matéria?
— Finalizada, claro! — E, com um tom de brincadeira, completei — Você ainda tem esperanças de que um dia eu pise na bola, não é?
— Isso nem passa pela minha cabeça! Não tenho dúvida nenhuma de que você é a melhor profissional que temos na revista e é sempre a primeira da lista para os assuntos estratégicos. Você sabe que é meu braço direito! E é por isso que quero lhe pedir um favor, Betina.
Sabia que boa coisa não poderia ser. Sentia que ele estava escolhendo as palavras para continuar o assunto. Conhecia-o há muito tempo e ele sempre fora direto e objetivo. Não era de fazer rodeios, a não ser quando não estava confortável para pedir alguma coisa que não achasse correta.
Gustavo era um chefe muito bom. Bastante exigente, como todo profissional competente, mas sabia recompensar sempre que alguma coisa superava suas expectativas. Era um homem de média estatura, moreno, beirava os 50 anos. Estava de bem com a saúde e com o corpo. Era casado há quase 30 anos e tinha um casal de gêmeos de 19. Nenhum dos dois quis seguir a carreira do pai. Laura estudava arquitetura e Luiz fazia engenharia civil. Acho que por isso ele depositava tantas fichas em mim. De certa maneira, eu preenchia uma lacuna na qual ele tinha uma certa frustração.
— Pode falar, afinal, ainda tenho um dia inteiro aqui. Aposto que quer que eu compre alguma coisa para você. — Sabia que não se tratava disso, mas estava tentando, de alguma forma, amenizar sua tensão.
— Não é bem isso. Preciso que você fique em Londres por mais alguns dias.
Fiquei gelada. Meu aniversário era no sábado e tinha planos para estar no Rio com minha família.
— Por quanto tempo? — perguntei.
— Ainda não sei ao certo. Um grande amigo meu, dono do jornal The Realist, está precisando de uma fotógrafa para auxiliar em uma reportagem aqui no Brasil e me ligou para pedir uma ajuda. Aproveitando que você está aí, achei que nós poderíamos atendê-lo imediatamente.
— Tudo bem, Gustavo. Mas não posso me encontrar com ele amanhã e mantenho meu voo para quinta-feira?
— Já pensei nisso, mas ele precisa que você conheça o jornalista que fará a matéria e ele só estará em Londres na sexta-feira.
“Na véspera do meu aniversário!? Por que era eu quem precisaria estar disponível?” — pensei
— Borges! Não posso conhecê-lo em outra oportunidade? — Minha indignação era tão grande que acabei chamando-o pelo sobrenome. Acho que ele percebeu a alteração do meu humor.
— Infelizmente, não. Eles precisam finalizar o escopo do trabalho com a maior urgência.
— Mas…
Nem completei a frase quando ele me cortou, voltando a ser o bom e velho Gustavo de sempre.
— Desculpe-me, Betina, odeio ter que fazer isso, principalmente próximo ao seu aniversário, sabendo de todos os seus motivos para querer estar aqui. Mas isso é importante e devo muito ao Richard. Espero que você compreenda e me perdoe.
Ainda tentei convencê-lo, mas não obtive sucesso. Entendo que para ele era muito importante manter laços profissionais com parceiros internacionais, mas estava me sentindo péssima por ter que mudar meus planos. Apesar de efetivamente não ter nada programado, queria apenas passar meu aniversário no meu “ninho”.
Logo me veio à mente a última ocasião na qual me encontrava realmente feliz no dia do meu aniversário.
Foi em 2001, quando João e eu estávamos juntos há quase um ano. Ele havia conseguido uns dias de folga e eu já havia terminado um freela para a revista Viagem. Ele propôs que fôssemos passar um final de semana prolongado fora do Rio. Concordei na hora. O que mais queria era ter tempo só para nós dois. O último ano havia sido de muito trabalho para ele.
Ele me pediu para fazer a mala, pois iríamos para Salvador. Estava tão feliz e animada! Um final de semana inteiro com ele, sem ter que dividi-lo com o pager nem com as ausências emergenciais.
Era quarta-feira, véspera do meu aniversário. Ele havia levado sua mala para o plantão e iria para o aeroporto direto do hospital. Combinamos que nos encontraríamos no setor de embarque. Ele tinha agendado um táxi para mim para as três horas da tarde. Tínhamos que estar no aeroporto às quatro. O trânsito já estava começando a ficar tenso, devido ao feriado prolongado, mas cheguei ao aeroporto 15 minutos antecipada. O motorista do táxi me deixou na ala internacional, apesar de ter informado em qual companhia aérea iria viajar. Ele me deu uma desculpa esfarrapada e acabou parando duas portas à frente da entrada à qual eu deveria ir.
Entrei no saguão do aeroporto e liguei para o João, que me disse estar perto. Me pediu para ficar onde estava, que me encontraria. Cinco minutos depois chegava ele, lindo, com uma calça jeans, uma camisa social com listras azuis bem discretas e um blazer.
Ele ergueu as duas passagens na mão e me surpreendeu com o destino: estávamos indo para Cancun! Ainda sem acreditar, abracei-o e dei muitos beijos em todo o seu rosto. Parecia uma criança que havia acabado de receber sua primeira bicicleta de Natal.
Ficaríamos cinco dias no total. Fomos para o Club Med, em Yucatán. O hotel era afastado da cidade. Nossa suíte tinha vista para as águas azuis-turquesa do mar do Caribe. Era difícil acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo.
No dia seguinte era o meu aniversário. Ele ordenou um delicioso e romântico café da manhã no quarto, flores e muito amor. Naquele tempo ainda transávamos muito, a qualquer hora e em qualquer lugar. Quando fui abrir a cesta de pães, havia uma chave e logo deduzi que era a do seu apartamento. Nesse dia, ele me convidava para morar com ele.
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— Ok, Gustavo, eu fico. Mas quero pedir uma coisa. Já que não vou passar meu aniversário aí, eu quero ficar dez dias aqui em Londres depois das reuniões.
— Sete! — Ele retrucou.
— Feito — respondi, satisfeita por ser exatamente o tempo que desejava.
Desligamos o telefone e, antes de dormir, liguei para minha mãe para dar a má notícia. Ela, como sempre, incentivou-me a fazer o que tinha de ser feito. Por sinal, ela sempre foi a única pessoa em minha família que acreditou em mim e apostou no meu sucesso profissional.
— Minha querida, não fique assim. Já se passaram quatro anos desde a morte do seu pai. Está na hora de você pensar um pouco em você. Eu estou bem. Divirta-se, meu amor.
Suas palavras de carinho eram um conforto para mim. Afinal de contas, era horrível carregar o trauma de ter perdido meu pai exatamente no dia do meu aniversário.
Na manhã seguinte, acordei e me arrumei para a reunião. Mesmo tendo certeza da confiança que Gustavo havia depositado em mim, o fato de ter que ficar na cidade por mais alguns dias me deixava com um nó na garganta.
Deixei o hotel por volta das 9h e dei uma rápida parada para tomar um café no Starbucks da Craven Street. Fui para o metrô, na estação Charing Cross, e peguei a linha Barkerloo em direção ao Regent’s Park. Cheguei à sede do jornal 15 minutos antes do combinado. Tomei mais um expresso antes de subir dentro do suntuoso edifício que acomodava o escritório do jornal em seus quatro últimos andares e coloquei um chiclete de menta na boca para camuflar o hálito deixado pelo excesso de café.
Peguei o imponente elevador que me levou até a cobertura do edifício The One, na Albany Street, número 27. Porém, antes de sair do ascensor, embrulhei o chiclete mastigado em um guardanapo e o coloquei na bolsa.
No hall havia uma grande tela de Romanelli, com seu estilo inconfundível. Ao centro, uma enorme recepção onde havia três belas e alinhadas mulheres. Aproximei-me de uma delas e me apresentei.
— Bom dia. Meu nome é Betina Zetser. Tenho uma reunião com o Sr. Richard Warner.
— Pois não, Srta. Zetser. — A recepcionista gentilmente pegou o telefone, anunciando-me a quem parecia ser uma quarta secretária.
— Aguarde um minuto, por favor.
Enquanto esperava, observava aquela bela peça de arte, uma colheita de algodão de aproximadamente 1,2 metros de largura por 80 centímetros de altura. Depois de longos minutos de espera, senti um vulto se aproximando.
— Gosta de arte?
Uma voz ecoou atrás de mim. Virei-me e me deparei com um homem alto e elegante, em um terno Hugo Boss muito bem cortado, de cabelos loiros ondulados e olhos azuis. Parecia ter uns 50 anos, sua aparência era impecável e deixava qualquer mulher sem fôlego.
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