Surpresas? Nem sempre são bem-vindas.

Existe um velho dito popular que diz “Não surpreenda para não ser surpreendido”. Lembro de minha mãe dizer que a sua avó, ou seja, a minha bisavó, repetia isso com frequência. Será que deveríamos escutar mais a voz da sabedoria?

Mas que mal faz uma surpresa planejada? Surpresas são gostosas de organizar, podendo ser uma visita ou uma festa inesperada. No fundo, os preparativos para quem as organiza se tornam, muitas vezes, momentos até mesmo mais emocionantes e prazerosos do que  o ato em si. 

Acho que, assim como eu, muitos de vocês já se aventuraram a preparar alguma surpresa para alguém. É emocionante ver o homenageado, o surpreendido, com aquela aparência de espanto, boquiaberto, diante de uma plateia que ri de sua cara de bobo. É uma sensação gostosa, um prazer de dizer “eu já sabia há muito tempo”.

Mas será que todas as surpresas têm um final empolgante? Pois vou lhes contar uma história cujo desfecho não saiu exatamente como esperado.

Em novembro de 2007, eu e meu marido comemorávamos oito anos de casados. Havíamos acabado de ter o nosso segundo pimpolho, poucos meses antes. Resolvi organizar uma celebração criativa e inesperada e passei semanas no planejamento do evento. Mas tudo nessa vida gira em torno da expectativa e da realidade, não é mesmo? 

Então vamos para a expectativa.

Reservei uma suíte de frente para o mar no antigo hotel Sofitel de Copacabana, localizado no posto 6. O plano era chegar ao hotel com antecedência, decorar o quarto com um balde de Champagne Veuve Clicquot, bombons de cereja da Kopenhagen, balões de gás hélio com formatos de coração rodeando um de número oito em cor prateado. Para finalizar, pétalas de rosas vermelhas sobre a cama. 

Assim que meu marido chegasse do trabalho, por volta das 18h, horário que passei a semana inteira confirmando como uma vitrola emperrada, ele receberia um envelope lacrado com a chave do quarto do hotel e um bilhete no qual eu pediria que me encontrasse. 

Ele então partiria em seu cavalo branco, driblando o trânsito carioca, envolvido pela sede da paixão. Querendo aproveitar os segundo daquele “vale night”, que por fim recebia.  Como vocês já devem imaginar, o plano meio que degringolou ao longo do processo e a realidade foi bem diferente.

Dias antes da data, ele me comunicou que passaria o dia em um treinamento em um outro hotel, também na Avenida Atlântica. Por um lado, até achei que seria mais prático ele já estar pelas redondezas, afinal estaria a menos de um quilômetro de distância. Do cenário planejado, a única diferença seria que em algum momento da tarde, passaria para deixar o envelope lacrado na recepção do local onde estaria.             

O fato é que tudo começou a se desmoronar em sequência, como um castelo de cartas que rui. Primeiro, demorei mais do que o previsto para sair de casa, não me lembro ao certo o que me atrasou, mas com certeza teve relação com a organização dos filhos e com como eles ficariam naquela noite, sendo cuidados por minha sogra e minha ajudante. 

Já muito fora do horário previsto, dei entrada no hotel. Deixei as coisas mais ou menos organizadas e fui levar o envelope com a chave da suíte para ser entregue a meu marido. Eram por volta das 15h, o que me dava tempo suficiente para buscar os balões encomendados em uma loja, ali mesmo em Copacabana. 

Foi nessa hora que o estresse se intensificou. Ao chegar ao hotel onde ele estava, fui direto à recepção, me identifiquei e perguntei a que horas finalizava o evento da empresa. O recepcionista, munido de uma calma invejável, já que minhas pernas tremiam como se eu estivesse brincando de pique esconde, pelo medo de ser vista, me respondeu dizendo: “Já estão por finalizar senhora, já fomos informados que estão descendo.” 

Meus olhos arregalaram com a antecipação do término do evento. Se ele recebesse o envelope, seguiria para o hotel e a verdade é que ainda não estava pronta para a surpresa. Não haveria tempo de pegar os balões, o trânsito no bairro não era nada favorável para quem precisava de ágil mobilidade. Necessitava encontrar uma forma de evitar que ele abrisse o envelope. Ele tinha que aguardar o momento certo. Mas como? 

Foi a partir de então que tudo degringolou de vez. A minha genialidade criativa quase provocou um infarto em meu marido aos seus 36 anos de idade.

Saí do hotel e dez minutos depois liguei para ele, passando as seguintes instruções:

“Deixei um envelope para você na recepção. Não abra! Espere aí no hotel, que mais tarde te ligo com novas instruções.”   

Ok, confesso que, posso ter sido um tanto dramática, mas, em minha defesa, eu estava com a adrenalina exacerbada, em um estágio de quase urinar nas calças, igual criança quando está escondida em brincadeira de pique esconde. 

O fato é que a minha ligação o pegou de surpresa. Meu tom de voz foi mal interpretado e ele achou que eu havia sido sequestrada. Começou a suar frio, imaginou estar sendo observado. Resolveu ir ao banheiro para ligar para casa. Minha ajudante atendeu a chamada e, mancomunada comigo, fingiu-se de tonta respondendo que não sabia onde eu me encontrava. 

Confirmou que os meninos estavam em casa. 

“Ufa! Uma preocupação a menos!”, ele pensou. 

Suava frio enquanto mantinha o envelope na mão. Não sabia se o abria ou não. Perguntava-se quais seriam as consequências caso o abrisse. Será que os sequestradores saberiam que o fizera? E, uma vez aberto, o que eles fariam comigo? Os minutos de aflição passavam lentamente. Enquanto isso, eu, toda serelepe, tranquila que havia conseguido controlar a situação a tempo, pegava os balões e regressava ao hotel para finalizar a decoração do romântico quarto. 

Momentos mais tarde, já instalada e com a suíte preparada, liguei para ele autorizando a abertura do envelope. Ao dar-se conta do desfecho dessa história, ele precisou de um bom tempo para não me matar e para se restabelecer do estresse sofrido. Resolveu seguir caminhando para o hotel onde me encontrava, a passos bem lentos, minutos vitais para se recuperar do susto do meu falso sequestro.   

7 comentários em “Surpresas? Nem sempre são bem-vindas.

  1. A experiência deve servir para alertá-la a evitar tais situações, principalmente com o passar dos anos, onde nem sempre o humor e a saúde permitirão resultados complacentes.

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