
Essa semana, meu filho caçula fez 13 anos. Muitas coisas passaram pela minha cabeça, inclusive o famoso clichê: “agora ele é oficialmente um adolescente”. Sabemos que o conceito de “adolescência oficial” tem origem na língua inglesa, uma vez que o número 13 (thirteen) é o primeiro com a terminação da palavra em “teen”, o que significa adolescente. Os jovens carregam o “teen” até a idade de 19 anos e quando chegam aos 20, com a mudança do padrão, damos início à vida adulta.
Outro pensamento que me veio à cabeça nesses últimos dias foi o fato de termos uma cultura que estereotipa o filho caçula como o mimado da família. Aquele que sempre consegue tudo o que quer, até mesmo o consentimento dos pais para realizar certas atividades bem mais cedo do que seus irmãos mais velhos.
Depois de muito pensar sobre o tema e sobre os motivos que nos levam a enraizar esse modelo mental, cheguei à conclusão de que mimar o caçula é uma tentativa de postergar o seu amadurecimento. É o medo de perder a sensação de ter um filho pequeno por perto. O pequenininho.
Aqui em casa, cada dia que passa é um dia a menos desse sentimento de posse maternal. A sua puberdade, que até o momento foi manifestada muito timidamente, já começa a dar sinais de que a partir de agora se acelerará. A sua aparência, que ainda guarda muitos traços infantis, já começa a manifestar que, muito em breve, seremos apresentados a uma nova versão de nosso “pequeno”.
Quanto à voz, sabemos que em muito pouco tempo estará irreconhecível, lembrando-nos, em cada entonação mais grave, que nosso “pequeno” está nos abandonando. Os centímetros, adquiridos de maneira frenética, nos provam que suas ambições para ver o mundo de cima são reais e que a cada dia que vive ele alcança um novo patamar.
São transformações divinas as quais os filhos passam nessa idade. Acompanhamos com emoção o primeiro filho atravessar essa fase. Logo, chega a vez do segundo filho, em seguida o terceiro e assim por diante. Sem dúvida, o último do clã sempre traz uma carga maior de emoção. A certeza de que, além de estarmos envelhecendo, estamos perdendo o bebê da casa. Aquela última chance que temos de colocar no colo, de nos deitarmos junto para pegar no sono. Em pouco tempo, o caçula já não desejará esse agarramento diário, a “beijação” constante e tantas outras manifestações de amor que só conseguimos receber, com essa intensidade, quando são pequenos.
Esse desejo de postergar a chegada do inevitável momento de “desmame” é que gera a fama do caçula mimado. Pobre criatura, que acaba com a sua reputação abalada por consequência do sentimento de abandono que os pais experimentam.
Há poucos anos, conheci uma família cujo filho era companheiro do meu menino na escola. Na ocasião em que os conheci já tinham seis filhos, sendo esse o segundo mais velho em uma escadinha que ia dos dois aos dez anos. A mãe dizia que queria ter outro filho. Confesso que achei o desejo um tanto bizarro. Já tinham seis crianças e queriam outra? Minha surpresa era tamanha que não tive cerimônia ao perguntar o motivo pelo qual queriam aumentar a prole, mesmo sem ter a menor intimidade para tal questionamento. A resposta veio de maneira natural e instantânea: “Eu adoro bebês e não quero que eles cresçam”. Passados dois anos, lá estava ela grávida novamente.
O crescimento dos filhos é algo inevitável. Uma bênção magnífica e ao mesmo tempo aterradora, um gatilho para a síndrome do abandono. Não demorará para eu deslizar novamente os meus dedos através do teclado deste computador e externar os meus pensamentos em uma nova crônica, que terá a mesma essência que essa. Daqui a um ano, o meu filho mais velho seguirá seu caminho. Deixará a casa e partirá para a Universidade, mas isso é assunto para outro momento. Por agora, vou curtir esse ano de transformação do meu caçula e tratar de não o mimar, pois a partir do próximo ano, quando o mais velho for embora, já não responderei por mim. Sob influência da síndrome do abandono, é muito provável que eu tenha bons motivos para lamber a minha última cria em casa e fazer jus à velha reputação do caçula mimado.

Fantástico Lulu ! É isso mesmo!!!!
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Luciana ! Todas as suas crônicas refletem com muita naturalidade e beleza sentimentos que deveriam ser experimentados por todos. A leitura nos dá a oportunidade de vivencia-los de novo.
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É isso mesmo, a maneira que o caçula vai se “distância ndo” tentamos prolongar a fase dele criança p não perder o nosso “bebê”
Mto bem colocado na tua crô nica.
Parabéns
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É isso aí Eloha, mas no fundo serão sempre os bebês.
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