Visões de um Passado Distante

Matteo Bianchi é um jovem italiano nascido na cidade de Florença. Aos dezoito anos, decidiu mudar-se para Roma. Seu sonho era estudar arqueologia na universidade mais antiga da capital italiana. A Universidade de Roma La Sapienza localizava-se a poucos quilômetros dos principais cartões postais do país e essa proximidade com a história antiga o fascinava.

Roma foi uma paixão à primeira vista. Matteo gostava de caminhar e se camuflar entre as centenas de turistas que transitavam diariamente, sem pressa, por suas ruas e avenidas. Achava a cidade linda e fascinante. O que mais lhe interessava era a arquitetura do lugar e, quando estava de folga dos estudos, passava horas transitando pelo Fórum Romano, sítio de ruínas arqueológicas que conserva, até hoje, as memórias do passado. Ele é um apaixonado pela história de seu país e sente uma conexão inexplicável por cada recanto da cidade. 

Um dia, resolveu subir, mais uma vez, ao topo da colina no centro do Fórum Romano, para de lá apreciar a vista. O céu azul celeste e sem nuvens garantia uma tarde encantadora. Do alto, ele escutava um áudio sobre a história do lugar e acompanhava com os olhos todos os detalhes pronunciados pelo narrador. Ao ouvir os relatos sobre o passado do Coliseu, ele virou seu rosto para a direita, encarando, a uma distância curta, o grande anfiteatro em ruínas, que um dia foi palco de violentos combates entre gladiadores. Sem saber o porquê, seu coração se acelerou e, como se fosse um “flashback”, ele teve a visão nítida de uma batalha, na qual homens trajando roupas em estilo medieval se enfrentavam com espadas em punho. Por reflexo, tirou o fone de seus ouvidos, fazendo com que as imagens da luta se dissipassem no mesmo instante. 

Sem ter uma explicação lógica para o ocorrido, recolocou o fone nos ouvidos sem saber se gostaria de voltar a ver tais cenas e ao fazê-lo nada aconteceu. Intrigado, ele olhou as horas e resolveu correr para alcançar o último turno de excursões ao interior do Coliseu. Nunca havia entrado no lugar, mas, naquele momento, sentia por ele uma forte atração, um chamado que o instigava a se dirigir para lá. Desceu colina abaixo, desviando-se de turistas que ainda se esforçavam para subir as escadarias em busca de alcançar o melhor ângulo da cidade. Em menos de vinte minutos, ele já estava com o ingresso nas mãos e enfrentava a fila para entrar. 

Se deparou com um grande portal, que dava acesso à arena principal. Enquanto atravessava o corredor em sombras, notou seu coração acelerar. O nervosismo lhe causava frio na barriga. Sentiu uma sensação de “déjà vu”. Uma certeza de que já havia atravessado aqueles portões, mesmo sabendo que essa era a sua primeira visita. Ao alcançar a luz do sol e aproximar-se do platô de observação turística do anfiteatro, uma nova cena, viva, presente e cheia de cores, se materializou à sua frente. Pela segunda vez ele se viu testemunhando um espetáculo real. Nas imagens, os turistas haviam sumido. O piso, antes de madeira, tornara-se de areia. A mochila, que carregava em um dos ombros, fora substituída por um pesado colete de metal e em suas mãos já não havia o seu aparelho celular, mas sim um escudo de bronze de formato circular.

Atordoado, Matteo fechou os olhos e sacudiu a cabeça. Sabia que aquela imagem não passava de uma ilusão criada por sua mente. Pensou estar ficando louco e quando abriu os olhos se deparou com o rotineiro cenário do ponto turístico mais visitado da Itália. Sem clima para continuar o passeio o qual ainda não havia iniciado, dirigiu-se à saída e regressou à casa, ainda se sentindo aflito com as duas experiências vividas. 

Naquela mesma noite, sem conseguir dormir, ele passou a madrugada navegando na internet, lendo tudo sobre o Coliseu e sobre os gladiadores que lá lutaram. A cada foto que via, a cada passagem histórica que lia, tinha a sensação de que, de alguma maneira, fora parte desse passado, o que o deixava cada vez mais confuso. Pegou no sono faltando poucas horas para que o dia amanhecesse. As pouco mais de duas horas de descanso foram suficientes para que ele voltasse a vivenciar momentos do passado. Dessa vez, através de um sonho. 

Ao entrar no Coliseu, encontrou as arquibancadas lotadas. Se via só no centro da arena e vestia trajes de batalha. Deu um giro de 360 graus, observando a multidão que o ovacionava com animação. Um forte ruído chamou a sua atenção que foi desviada para o lugar de onde vinha um barulho de engrenagem de ferro em movimento. Viu uma grade que lentamente era erguida; atrás dela, somente a escuridão de um túnel aparentemente sem fim. Na expectativa, a multidão conteve os gritos e aplausos, permanecendo em absoluto silêncio, aguardando o que dali sairia. Nervoso, Matteo sentia o seu coração acelerado e a sua boca seca. Posicionou-se em postura de defesa, protegendo-se atrás do escudo e mantendo sua espada ereta. Preparava-se para enfrentar o que quer que tivesse que encarar. 

Escutaram um rugido alto vindo das sobras do túnel. O barulho animou a plateia, que calorosamente dava sinal de aprovação do oponente e antes que tivesse tempo de pensar, Matteo avistou um enorme leão que surgia da escuridão e em disparada seguia ferozmente em sua direção. O jovem deu um pulo da cama no momento em que o animal dava o último salto para lhe alcançar. Essa foi a sua terceira experiência em conflitos com gladiadores em menos de 24h. O sonho que acabara de ter não lhe preocupava, afinal sonho é sonho. O que realmente lhe intrigava eram as visões que tivera enquanto estava desperto. 

O que justificaria essas experiências? Seria um sinal da perda de sua sanidade? Não podia admitir que esse fosse o verdadeiro motivo. Incapaz de pensar em alguma outra razão, ele abriu o seu computador e, mesmo sem ter certeza se naquilo acreditava, escreveu na ferramenta de busca a palavra “reencarnação”.

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