O que só na prática aprendemos
No domingo passado comemoramos o dia das mães e quero aproveitar a crônica de hoje, para abordar um assunto sobre o mesmo tema.
Não! Esse não é mais um texto que trata dos encantamentos da maternidade. Dessa vez, o objeto é outro e, infelizmente, ainda considerado um tabu para muita gente.
A maternidade é um universo com inúmeros desafios e cada um deles, um obstáculo a ser enfrentado. Mulheres que por medo de serem julgadas a receber o título de pior mãe do mundo, escondem sentimentos que muitas vezes as levam a uma complicada depressão pós-parto no momento em que estão mais sensíveis e vulneráveis.
O fato é que, poucas são aquelas que realmente apreciam todas as etapas do processo. Para as outras tantas, que não conseguem curtir todos esses momentos, acabam se culpando por estarem remando contra a maré imposta pela sociedade, que nos faz acreditar que a maternidade é plena e perfeita.
Mas quer saber? Eu confesso que não curti amamentar e está tudo bem pensar assim!
“Mas como?” – Algumas mães incrédulas me perguntam. “Como pode não ter gostado de amamentar e sentir o vínculo que se cria nesse momento mágico?” – Insistem no tema, querendo me convencer de que algo que eu já vivenciei e, não gostei, é bom.
De uma maneira geral, se o parto tiver sido tranquilo, o bebê é levado a mãe para a sua primeira mamada poucas horas depois de nascer. Se for uma mãe de primeira viagem, esse é um momento inédito para ela também. Um contato fascinante de aprendizagem e uma emoção diferente de tudo que vivera antes.
O que as pessoas esquecem de falar é que, para que a experiência seja positiva, a mãe precisa ter conhecimento e saber exatamente como proceder com essa majestosa função. Não é fácil amamentar. É preciso saber a maneira correta da posição do bebê, de como ele deve encaixar no seio, e até mesmo que o formato do mamilo, influi para que o processo funcione bem. Poucas são as mulheres que recebem essas preciosas informações antes da primeira experiência.
As enfermeiras quando trazem os bebês para a primeira mamada, explicam os conceitos básicos, mas nem sempre são suficientes para orientar integralmente uma mãe inexperiente. A situação ainda é mais crítica quando nesse primeiro momento, o filho engata no seio com maestria, fazendo com que a profissional acredite que aquela mulher domina o assunto.
Mas, você lembra da lei de Murphy? É só sair do hospital que a conexão perfeita começa a descer ladeira abaixo. Nesse caso a única solução é aprender na marra e comprar um estoque de pomadas salvadoras para aliviar as dores dos seios feridos.
A hora da amamentação se torna um verdadeiro ritual, com diversas artimanhas para minimizar o desconforto causado pela falta de conhecimento. Primeiro, a mãe se acomoda em uma poltrona confortável. Em seguida, posiciona uma almofada específica para amamentação, para poder ajeitar bem o bebê. Na continuação, a mulher libera o fecho do sutiã, e por último, retira a “concha” que está protegendo a pele. Uma engenhoca de plástico que foi inventada para ajudar as lactantes, e tem a função de armazenar o leite materno que fica constantemente gotejando, como uma torneira danificada.
Depois de toda a preparação, chega a hora mais difícil. O encaixe! O bebê se aproxima com a boquinha já na posição perfeita, mas que esconde o verdadeiro poder destrutivo que tem. Os segundos prévios ao engate passam com lentidão, dando tempo suficiente para a mãe observar uma cena curiosa. De um lado, o seu filho esfomeado ansiando pelo peito, e do outro, o seio rachado e ferido. Duas imagens que não combinam.
Quando o bebê finalmente alcança seu objetivo, a mãe decola em uma dolorosa viagem que dura intermináveis segundos. O tempo que as primeiras sugadas levam para anestesiar o seio, fazendo com que a dor regrida lentamente, enquanto ela aos poucos vai se recuperando da agonia que muitas vezes a leva as lágrimas.
Para muitas mulheres esse martírio dura pouco, até que a pele se acostume com o atrito da amamentação, um pouco parecido com o processo que ocorre nas mãos dos músicos, ou mesmo nos pés das bailarinas. Mas, existem casos onde essa dor persiste até a última mamada oficial do filho. O fato é que cada uma de nós somos diferentes e sentimos sensações distintas, e precisamos aprender a não julgar aquelas que tem motivos de sobra para não gostar de amamentar.
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